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Vizinhos: membros de uma grande família

Casa, família, vizinhos.
Hoje em dia é raro haver uma casa sem vizinhos. Só na área rural há ainda casas isoladas, mas mesmo assim a figura do vizinho ainda existe, mesmo que distante em quilômetros.
Desde que constituí a minha família, e isso há 50 anos, em todas as casas que morei eu só tive ótimos vizinhos.
Na minha primeira casa, numa travessa particular, eles eram ótimos. Recém casado eu formava o par mais jovem da rua. Os demais – todos moradores em casinhas geminadas como a minha – já tinham filhos. Meio século passou, mas ainda mantenho relações com alguns – os que sobreviveram. E sempre comentamos aqueles tempos, em que crianças iam brincar na minha casa, ou passear conosco. Hoje, algumas daquelas crianças, mesmo com filhos adultos, e sendo juízes ou diretores de empresa, quando me encontram me beijam a face e me chamam de tio.
Mas a família cresceu, a casa ficou pequena. Mudança. Com o coração na mão e lágrimas nos olhos, por abandonar aqueles que tão bem nos acolheram na sua vizinhança, fui para um bairro mais distante. Rua ainda de terra, mas casa maior – para receber as crianças que viriam. Nova casa, novos vizinhos, e mais amigos. Agora amizade entre os pais e os filhos. Alguns deles foram amigos e companheiros de todo dia desde o jardim da infância até a faculdade. Eram como irmãos. E os casais – mais ou menos na mesma idade – curtiam os vizinhos mais que as próprias famílias: juntos os fins de semana – ora na casa de um, ora na casa de outro – sempre tinha o almocinho, o jantarzinho, o drinquezinho, o baralhinho, o churrasquinho, a pizzazinha. E todos juntos – adultos e crianças, sempre.
Filhos crescem, expectativas também. Mais vinte anos, e nova mudança. Agora casa maior, mais distantes uma da outra, sem ninguém batendo papo na calçada. Era outro projeto de bairro. Passaram-se mais 20 anos. Mas mesmo nesse bairro em que aparentemente as pessoas são distantes, eu continuo tendo amigos por vizinhos. Ou vizinhos por amigos, como queiram. Muito disso é fruto da facilidade de relacionamento da minha esposa, sempre cordial, atenciosa. Hoje morando sozinho colho os frutos das amizades feitas. Todos tomam conta da minha casa, e também de mim. Assim como procuro tomar conta deles também. Quando um viaja, avisa o outro. Se precisar de ajuda, pode contar com todos eles. Quando você olhar para esse bairro, com terrenos de frente grandes, casas grandes com muros, parecendo isoladas, sem ninguém na rua, não julgue estarem isolados. É só essa aparência. Exemplo?:
Acamado por alguns dias ouço a campainha, e vou atender. E recebo uma vizinha, dando uma bronca porque – morando sozinho – não avisei que não passava bem (ela soube pelo guarda da rua – outro amigo) e ficou preocupada. Repetindo estarem à disposição e recomendando que eu ligue em qualquer necessidade, me entrega… um caldeirão com uma sopa quente para eu me fortalecer. Pode?
Outro manda, por sua conta, carpir na frente do terreno vazio e pintar o muro, sem nem sabermos que era o dono. Explicação: “não me custou quase nada, e a rua ficou mais bonita e valorizada. Se valoriza uma casa, valoriza todas”.
O filho adolescente de outro faz questão de me convidar para as suas disputas futebolísticas, e nunca deixam de me convidar para seus aniversários.
Certo domingo chego a casa depois de passar um fim de semana fora. E vejo uma traquitana sobre o muro, um caibro, com um cesto pendurado numa corda. Estranho. Meu vizinho não me viu, achou que eu estaria fora, minha cachorra latiu (o que raramente faz), então ele construiu aquele elevador para descer comida para minha cachorra.
Precisa de uma ferramenta? Não precisa ir até a loja comprar uma. Um vizinho sempre tem e sempre te oferece. Enfim, é um permanente estado de colaboração.
Um vizinho me contou que, na sua terra natal, o Líbano, existe um ditado que diz: “antes de você escolher a casa em que vai morar, procure escolher os vizinhos”. E esse muçulmano, religioso e fiel ao Islã, em todo Natal sempre me cumprimenta, e me oferece alguns doces e diz que acha o Natal uma festa linda. Entre nós, a religião é o respeito e o amor.
Podem não acreditar, mas esses são fatos verdadeiros. Hoje, morando sozinho numa casa grande, minha família pequena agora sou eu e minha cachorra. Mas não me sinto nem um pouco isolado além de meus filhos e netos me visitarem, eu não moro isolado, porque tenho “vizinhos”. E o que isso tem a ver com família?
Bem, será que não existe semelhança entre os vizinhos e a família grande?
Se eles só existem por causa da casa, cuide deles como se fossem da família grande.

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