Meu pai tinha uma Veraneio. Para quem tem menos de 30 anos: Veraneio era um carro em que cabiam muitas pessoas. Tinha três bancos, e nada de bancos individuais, todos os três inteiriços.
Além da dúzia de filhos (sim meu pai teve uma dúzia de filhos!), ia nele, minha mãe no copiloto, e mais uma dúzia de malas e caixas com mantimentos. Cinto de segurança individual?! Só Deus fazia a segurança ali… às vezes colocávamos: mas era um só cinto para cada três crianças e era aquele que tínhamos que procurar embaixo do banco, difícil de achar…. E quase toda semana íamos para o sítio à noite e, muitas vezes, chovia. Chovia muito!
Estrada de terra, barro, carro sem desembaçador do vidro dianteiro (muito menos traseiro). Minha mãe, com um pano nas mãos ia limpando o vidro por dentro, tentando evitar que ele ficasse totalmente opaco e cegasse o meu pai na direção. Era bom ver os dois dirigindo juntos. Dava segurança para a família.
Mas apesar do meu pai ser corajoso e forte e minha mãe sábia, amorosa e valente, havia momentos em que a tempestade visivelmente abalava os dois. Os doze ficavam em silêncio quando isso ocorria, pois sentiam o medo que se passava no banco dianteiro.
Normalmente, quando isso acontecia, meu pai percebendo a filharada preocupada começava a cantar músicas que aprendeu com sua mãe.
Ao som do coro, o medo de ir em frente dava lugar ao sentido otimista das letras da música e na atenção para não desafinar. A doçura e a suavidade trazidas pela melodia portavam mensagem de fé e a família passava ilesa por mais uma tempestade.
Nem sempre a situação passou tranquila. Às vezes tivemos que desatolar o carro no meio da chuva. Era desagradável, mas estávamos preparados caso isso acontecesse, estávamos juntos!
Hoje cada filho tem sua própria pequena família. Cada um está dirigindo a sua Veraneio na versão moderna, e com seus companheiros e/ou companheiras, mas é certo que todos aprenderam com o pai a cantar uma boa música sabendo que isso traz união, harmonia, paz e esperança para a família.
E, com ESPERANÇA, a família passa junto por qualquer tempestade.
(Paulo Thomas Korte, o número 9 de uma família de 12 filhos, um dos fundadores do Família nota 7).